quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Decifre os pesadelos do seu filho

Monstros, baratas ou perseguições infindáveis. Estes são alguns dos temas recorrentes dos sonhos dos mais novos. Conhecer o seu significado é a chave para os ajudar a vencer os medos infantis.

Todos os dias de manhã, sente-se com os seus filhos à mesa do pequeno-almoço e introduza um pequeno jogo: cada um dos elementos da família conta qual foi o sonho da noite anterior.

Pode parecer tempo perdido, mas se lhe dissermos que os pesadelos são o tipo de sonhos mais comuns nas crianças (uma em cada quatro, entre os cinco e os 12 anos. tem pesadelos uma vez por semana) e que reflectem muitos dos seus medos, compreende-se que "os pais tenham, através deles, um acesso directo aos pensamentos e experiências dos filhos e que é da maior importância serem capazes de interpretá-los, de forma a ensinar as crianças a entendê-los também", como lembra Pamela Blosser, autora do livro ‘Interpreting Dreams for Self-Discovery' (Interpretar os Sonhos Para o Auto-Conhecimento).

1."Há um monstro no meu quarto"
Debaixo da cama ou escondido no armário, verdes, azuis ou amarelos, com uma boca descomunal ou garras afiadas, as crianças sonham recorrentemente com estes seres irreais, mas que lhes provocam imenso medo.
O que significa: O seu filho está stressado por causa de uma pessoa (por exemplo, um professor menos simpático) ou devido a uma determinada situação (o teste de matemática dessa semana ou porque vai ser chamado ao quadro).
O que pode fazer: Tente identificar qual o motivo que está na origem dessa ansiedade. Por outro lado "assegure ao seu filho que, quando cresceu, por vezes também se sentia perturbada, mas isso não significa que esteja em risco, com problemas ou que precise de ter medo", lembra Gillian Holloway, autora do livro ‘The Complete Dream Book (O ‘Livro Completo dos Sonhos')

2."Mãe, estou a cair"
Seja do alto de um prédio, de uma montanha russa ou da varanda, é normal eles sonharem que estão em queda livre.
O que significa: Pode sentir que alguns aspectos da sua vida não estão seguros (por exemplo, ter medo que um amigo se afaste ou que um dos pais desapareça).
O que fazer: Faça o que estiver ao seu alcance para lembrar ao seu filho que há elementos estáveis na sua vida (por exemplo, que os pais estarão sempre presentes na sua vida). "Discuta também, se ele quiser, as coisas que podem causar -lhe instabilidade: apenas o acto de partilhar é reconfortante, dado que ele compreende que não há mal em ter medo e que, se estiver preocupado, a mão estará lá para ouvi-la", salienta Gilliam, Holloweay.

3."Há baratas em todo o lado"
Estes desagradáveis insectos desempenham muitas vezes o papel de personagem principal nos pesadelos do seu filho.
O que significa: O medo de enfrentar situações inesperadas ou a sensação que está a ser ultrapassado pelos acontecimentos, como mudar de escola ou de casa
O que fazer: Gilliam Holloway aconselha os pais a "apontar-lhe elementos de estabilidade" (‘vamos estar todos juntos na casa nova, por exemplo) e "a fazerem com que essas mudanças sejam os mais suaves e previsíveis possíveis" (‘os teus brinquedos vão estar no teu quarto novo'). E faça o possível para controlar a sua própria ansiedade pois se a criança a ‘apanha' no ar, os seus esforços para o acalmar caem por terá.

4."Estão atrás de mim"
Ser perseguido por homens ‘maus' e ter de superar imensos obstáculos para não ser apanhado, sendo muitas vezes capaz de voar para vencer as dificuldades, é um das causas mais vulgares de terrores nocturnos.
O que significa: A criança tem que enfrentar um desafio específico na vida (o primeiro dia de aulas, por exemplo) que a perturba, sendo que os maus representam a pressão a que está sujeito e o facto de conseguir voar uma espécie de válvula de segurança.
O que fazer: Gilliam Holloway assegura que, neste caso, não tem de se preocupar: "o sonho denota o sentido da desafio que a criança encara, mas também lhe dá pistas sobre as habilidade e inteligência que se estão a desenvolver para serem aplicadas nos anos vindouros."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

'Alice No País das Maravilhas": o filme mais esperado do ano está a chegar

Há rainhas loucas, chapeleiros envenenados, portões mágicos, chávenas de chá, e até lagartas que fumam. ‘Alice no País das Maravilhas’, de Tim Burton, estreia já a 4 de Março.

‘Alice no País das Maravilhas' é daqueles livros que toda a gente acha que leu e poucos de facto leram. Já para não falar na ainda mais fantástica ‘sequela', ‘Alice no Outro Lado do Espelho', onde acontece isso mesmo: Alice atravessa o espelho e vê-se num mundo onde tudo está subitamente ao contrário.

Isto para dizer que convém ter lido os dois antes de se atirar àquele que é talvez o filme mais esperado de 2010. Claro que não é imprescindível: todos os universos de Tim Burton valem por si. Mas pelo menos, já sabe ao que vai...

Esta ‘Alice' não é uma adaptação dos livros, mas mais uma continuação. Alice já cresceu, não se lembra de nada, e regressa ao país das maravilhas para encontrar tudo num caos: a rainha vermelha tomou o mundo de assalto, e Alice vai ter de salvá-lo.

Percebe-se o fascínio de Burton por Carrol: o mestre do ‘nonsense' inglês virava o mundo de pernas para o ar para ‘desabituar' os nossos olhos da forma como vemos habitualmente e nos fazer pensar não apenas sobre aquilo que vemos mas sobre a forma como o vemos. ‘Alice' não é um mundo onde nada faz sentido: é um mundo onde todos os sentido se põem em causa, onde há espaço para todos os nossos medos, dúvidas e irrealidades que fazem parte daquilo que somos. E Burton vai aproveitá-lo para explorar ao máximo esse país onde sonhos e realidade se confundem.


Dos coelhos às meninas

Lewis Carrol, de seu verdadeiro nome Charles Dodgson, era um professor universitário de matemática, pacato e gago, que tinha duas paixões na vida: a primeira era uma paixão por jogos, puzzles e dilemas. Aliás, conta-se a história da ocasião em que Carrol foi levado a conhecer a rainha Vitória. Entusiasmada com as histórias de Alice, Vitória pediu a Carrol que lhe mandasse todos os seus outros livros. Carrol obedeceu: dias depois, a rainha recebia um monte de... tratados de matemática!

A segunda paixão de Carrol era o hábito de fotografar meninas pequenas (segundo o próprio, não tinha nenhuma paciência para rapazes). Até que ponto era uma paixão inocente continua a discutir-se e há-de continuar, sendo que nem as meninas nem o próprio Dodgson cá estão para nos elucidar, mas tudo leva a crer que se resumisse a uma vitoriana obsessão pela inocência, tão arredada das nossas preocupações actuais...

A Alice verdadeira era um dos seus ‘modelos', que Carrol levou para passear de barco numa tarde de verão. Para a entreter começou a contar-lhe as aventuras de uma menina chamada Alice, como ela. Alice, com 10 anos, gostou tanto da história que lhe pediu que a escrevesse, e assim nasceu ‘Alice no País das Maravilhas'.

Como se pode ver ainda hoje pelas fotos que sobreviveram, a Alice verdadeira era muito diferente do modelo de Alice loura que sempre foi a voga desde que assim foi desenhada, com ondas de cabelo louro, pelo primeiro ilustrador, sir John Tenniel, em 1865. Segundo a lenda, Carrol terá enviado ao ilustrador a fotografia de outra criança... Fosse pelo que fosse, a Alice verdadeira permaneceu pequenina, morena e feia, ao contrário de todas as Alices louras que desde então povoaram o mundo.


Enfim, mas se estiver a pensar levar as crianças, pense duas vezes: nos Estados Unidos o filme foi considerado PG (Parental Guidance) em vez de para todos, por duas razões: porque havia fantasia violenta e porque... há uma lagarta que fuma. Francamente, Carrol devia ter pensado nisso.
Há quem diga que o seu próximo projecto de Burton é o recontar da história da Bela Adormecida, desta vez do ponto de vista da bruxa. Por enquanto, não passa de um rumor, e Maléfica não prestou declarações...


Quem é quem:
- Mia Wasikowska - Uma quase desconhecida actriz australiana de 20 anos, nem queria acreditar quando foi escolhida para representar Alice. Burton afirmou que a escolheu pela sua ‘seriedade e compostura vitorianas'.
- Johnny Depp - O actor-fetiche de Tim Burton, especialista em personagens estranhas, está de volta como o Chapeleiro Louco, alegadamente louco devido ao envenenamento por mercúrio, com que os chapeleiros do sec. XIX trabalhavam.
- Helena Bohnam Carter - Como a Rainha Vermelha, a irmã mais velha da Rainha Vermelha, quase tão louca como o Chapeleiro mas sem o mercúrio.
- Anne Hathaway - A Rainha Branca, tão excêntrica e dramática como a irmã mais velha, mas cheia de medo de ir mais longe do que o lado luminoso da vida. Anne descreveu-a como uma "punk-rock e pacifista vegan.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AJUDE-OS A LIDAR COM O STRESSE ESCOLAR

Novas matérias, testes, professores com quem não se dão bem, muitas exigências: são muitas as situações que podem pôr o seu filho à beira de um ataque de nervos. Dou-lhe pistas para ajudá-lo a acabar com a ansiedade.

As exigências e pressão não afectam a apenas os adultos no seu quotidiano louco. As crianças também se vêem a braços, todos os dias, com novos desafios, matérias mais complicadas na escola e com a necessidade de tirarem boas notas. Para que o stresse não comece a pesar-lhes demasiado cedo, há que dar-lhes rotinas e até ensiná-los a relaxar. Ana Paula Reis, psicóloga clínica no NUPE (Núcleo de Psicologia do Estoril), especializada na área cognitivo-comportamental e em questões pedagógicas, dá aos pais algumas pistas úteis.

Modere as suas expectativas
A tentação de querermos que os nossos filhos sejam os melhores é grande. Mas quando soa o alerta de que estamos a ser demasiado rígidos e exigentes com eles? "As crianças aprendem por modelagem, ou seja, absorvem, de forma quase inconsciente, os padrões de comportamento paternos. Pais muito ansiosos e com uma postura muito exigente face a resultados e perfeccionismo, transmitem essa mensagem até através da sua linguagem corporal", explica Ana Paula. "Uma ansiedade moderada é positiva, porque serve para a criança aprender a lutar pelos seus objectivos. Mas se for demasiado grande, o jovem sente-se incapaz de atingir esse patamar de exigência e acaba por entrar num nível de ansiedade grande. Isto pode definir o seu sucesso ou insucesso escolar. Por vezes os pais misturam as suas próprias necessidades com as dos seus filhos." Ou seja, não projecte nele os sonhos e expectativas que tinha para si mesmo. Pode estar a fazê-lo inconscientemente.
A ansiedade pode ser ainda pior se a criança já teve experiências anteriores de insucesso, nem que seja uma nota negativa que não foi bem recebida em casa. "As pessoas tendem a sobrevalorizar a falha em vez do sucesso. Quando os pais o fazem, a criança interioriza um quadro de falta de competência e a mensagem ‘eu não sou capaz'. Isto gera baixa auto-estima e faz com que a criança não se valorize", aponta a psicóloga. Mas, no meio de tanta disciplina, existem, de certo, aquelas para as quais ele tem mais inclinação. "As crianças com notas baixas em ciências são, geralmente, boas em letras, e vice-versa. Mas há disciplinas em que, geralmente, todas são boas e gostam: o Estudo do Meio (no primeiro ciclo) e Área de Projecto."

Competitividade, sim... mas com limites
Competir é saudável. Põe-nos a fasquia sempre um pouco mais acima e obriga-nos a querer mais e a aspirar à excelência. Mas numa época em que ser o melhor ganha importância cada vez mais cedo, também pode ser uma faca de dois gumes. "É importante valorizar o sucesso e os jovens que se empenham em tirar boas notas. Mas a competitividade só é saudável se for partilhada", observa a Ana Paula Reis. "Os bons alunos devem ser motivados a ajudar os que não são tão bons e aprenderem a não ficar numa plataforma de superioridade que inferiorize ou humilhe os colegas. Aqui há uns tempos voltou-se a falar dos Quadros de Honra. Acho óptimo que existam mas devem ter uma adenda: estes jovens devem ser premiados mas também educados na partilha da sua competência com os colegas."

Boas soluções anti-stresse
- Fale com o director de turma logo no início do ano, sobretudo se o seu filho for mais introvertido e se escapa sempre às perguntas sobre como vai a escola com um evasivo ‘Normal...' ou ‘Vai bem...'. Estas conversas regulares dão-lhe, não apenas a noção de como vai ele de aproveitamento escolar, mas também se faz amigos ou como evoluiu emocionalmente. Fale, ainda, com o professor se o seu filho tiver demonstrado alguns sinais de ansiedade, em casa (ver caixa).
- Procure um psicólogo. "É difícil avaliar um filho imparcialmente, por isso há que pedir ajuda a um técnico", aconselha Ana Paula Reis. "Por mais boa vontade que tenham, muitos pais transformam um problema pequeno numa grande tempestade." Ao mesmo tempo, um técnico pode ajudar o seu filho com técnicas de relaxamento físico e mental para ultrapassar a ansiedade.
- Cuidado com as suas palavras!: "Os pais devem ter cuidado com o que dizem e fazem, a sua linguagem não verbal. É totalmente diferente ouvir uma mãe dizer, perante uma nova matéria ‘olha que desafio interessante' ou ‘que problema!'"
- Viva a rotina!: Nós, adultos, habituámo-nos por vê-la como uma vilã, mas a verdade é que as rotinas são essenciais para o desenvolvimento das crianças e jovens. "Quando é respeitada rigorosamente, a rotina dá-lhes segurança e tranquilidade", explica. A repetição e as rotinas fazem-nos poupar tempo e energia mental que, de outra forma, gastaríamos nos improvisos diários. E essa energia é essencial para estudar. Um jovem em fase de exames, pode ter uma agenda, horário ou tabela com as rotinas do seu dia-a-dia, encaixado no seu estilo de vida."
- Não esqueça as pausas: Ana Paula Reis advoga uma pausa de meia hora por cada três horas de estudo, para o corpo recuperar, sobretudo para aquelas maratonas de estudo para exames que o seu faz no ensino secundário e superior.
- Estimule-o a fazer exercício: "É óptimo porque provoca uma maior oxigenação cerebral e liberta toxinas", diz a psicóloga. Por outro lado, a ansiedade é canalizada para o esforço físico e a mente fica mais liberta: "Como nos concentramos no esforço físico, a parte emocional - e, logo, a ansiedade - fica para segundo plano."
- Mantenha um diário: "É muito importante. Na abordagem cognitivo-comportamental trabalhamos com um caderno onde apontamos os sentimentos negativos e positivos. Ao fazê-lo, o jovem escreve a forma como se relaciona, pensa e sente a realidade", explica Ana Paula. Este diário acaba por ser essencial para quem está a ser seguido por um psicoterapeuta: o seu conteúdo é partilhado com ele, durante o processo de terapia, e serve para apontar causas e soluções para o stresse e ansiedade.
- Não esqueça a brincadeira: O organismo está programado para o equilíbrio, e ele próprio pede descanso, actividade, lazer. "Dentro das rotinas diárias deles tem de ser contemplado um horário para a brincadeira. O relógio biológico diz-lhes que, apesar de estudarem até às cinco, por exemplo, têm depois tempo de brincar. Quando os meus filhos eram pequenos, tínhamos aquilo a que eu chamava ‘a hora da asneira'. E era sagrada! Quanto mais cedo se introduzirem estas rotinas nas crianças, mais depressa ela as interioriza de modo a que façam parte do seu relógio biológico."
- O problema pode não ser falta de estudo: O seu filho parece não atinar com a leitura, a professora queixa-se de que ele parece estar sempre nas nuvens? "Pode não ter a ver com preguiça de estudar. O problema pode estar relacionado com dislexia, défice de atenção, problemas auditivos ou visuais." Se não forem diagnosticados logo de início, podem desencadear na criança a sensação de que está atrás dos outros contribuir para uma baixa de auto-estima.
- Elimine o seu próprio stresse: "Pais stressados criam crianças stressadas", observa Ana Paula. O primeiro passo para ensinar o seu filho a combater a ansiedade é ele poder ver em si um bom exemplo disso.

Detecte os sinais de ansiedade no seu filho
A ansiedade é saudável e normal em todos: ela ajuda-nos a preparar-nos para desafios difíceis. Mas, quando ultrapassa as fronteiras, pode interferir negativamente com a estabilidade emocional do seu filho. Eis alguns dos mais comuns:
- Recusa em ir para a escola
- Expressão triste, calada ou taciturna quando regressam a casa
- Comportamentos de isolamento e introversão
- Vómitos
- Noites mal dormidas ou alterações do sono
- Febres e erupções
- Recusa em comer ou perda de apetite
- Irritabilidade

Contactos úteis:
Nupe - Núcleo de Psicologia do Estoril
Tel. 21 467 10 97 / 96 500 89 29
http://www.nupe.pt/

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Crédito à habitação: vantagens de renegociar o crédito

A alteração das condições do empréstimo pode ser feito a qualquer altura do contracto e são diversas as possibilidades ao seu dispor para pagar menos todos os meses. Saiba quais são as melhores.

-Negoceie o spread. "É a melhor solução", como realça João Fernandes, da DECO, principalmente porque alguns créditos contraídos há mais de dez anos apresentam spreads de 2,5%, o que é completamente desactualizado para o contexto actual: "negoceie junto do seu banco, alegando que, como já amortizou uma parte da dívida e a garantia do banco se manteve a mesma (a sua casa), o risco para a instituição é menor". Se o seu banco levantar dificuldades, procure outras instituições de crédito e avalie as suas propostas, sendo que alguns deles pagam parte dos custos que advém da liquidação antecipada do empréstimo. Mas atenção: faça as contas entre o que poupa com o novo spread e esse valor.

-Alargue o período de anos do empréstimo: em Portugal há bancos que chegam a emprestar dinheiro a cinquenta anos, desde que a idade de um dos preponentes não ultrapasse os oitenta anos no final desse período. Porém, como alerta João Fernandes, da DECO, "isto diminui as prestações mas, no final do empréstimo, terá pago mais juros, pelo que deve ser encarada como uma solução de necessidade".

-Pague só juros durante alguns anos, ou seja, estabeleça um período de carência de capital. Isto significa que pode requerer ao banco o estabelecimento de um período (entre os cinco e os dez anos), durante o qual só paga os juros do empréstimo, sendo o restante capital solvido nos anos seguintes. Isto pode implicar custos administrativos a cobrar pela instituição, além de acarretar, como é óbvio, prestações mais elevadas findo o período de carência.

-Peça para pagar uma percentagem do capital no último ano do contrato - É outra das soluções possíveis e consiste em transferir cerca de 30% do valor do empréstimo para uma última e única tranche. É a solução indicada para quem tem expectativa de melhorar a sua vida financeira dentro de alguns anos, reunindo o capital necessário para proceder ao pagamento sem sacrifício.

- Amortize o empréstimo. Segundo a DECO, sempre que possível convém amortizar antecipadamente o seu crédito habitação. Ao fazê-lo, mesmo que as taxas de juro continuem a subir, pode-se abater o aumento da prestação mensal. No entanto, há que ter em conta as penalizações que o banco pode cobrar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Estamos a educá-los para um mundo que não existe?

São crianças ou adolescentes, colam-se à televisão, querem todos ser ‘famosos’ e vivem numa realidade feita de imagens. Mas como é crescer quando se cresce dentro do ecrã?
A tendência está a ser notada por pais e professores: as crianças e adolescentes estão a viver cada vez mais através da televisão. Os heróis deles são os da telenovela, aderem sem pensar a tudo o que lá aparece, compram aquilo que lhes querem vender, e a maioria delas tem muito poucas experiências de vida para além daquelas que ‘vivem' em segunda mão.

Segundo um estudo do Fórum da Criança, apresentado no 2º Seminário de Marketing Infantil, que estudou crianças portuguesas dos 4 aos 12 anos, ver televisão ocupa a maior parte do tempo livre para 95% delas! De acordo com estatísticas americanas, 70% dos infantários têm televisão. Num ano, uma criança passa 900 horas na escola e quase 1023 horas em frente de um ecrã. "E não é apenas o ecrã da televisão," nota Sara Pereira, socióloga da Universidade do Minho, responsável por vários estudos sobre as crianças e a televisão. "O mundo delas é feito de muitos ecrãs: o da televisão, o do computador, o da playstation..."

O perigo do excesso de novelas
À partida, a televisão nem seria grande culpada: "Ela é, em si mesma, um excelente meio de educação," defende a psicóloga Teresa Heitor Ferreira. E se todos nós chegamos a casa e gostamos de ver a telenovela, sem pensar em tristezas, quem é que tem coragem de negar esse enorme prazer às crianças? A televisão é, nas nossas vidas, o equivalente às guloseimas: um bombom de vez em quando adoça-nos. Mas se nos alimentarmos exclusivamente deles, ficamos obesas. Estarão as nossas crianças a correr o risco de ficarem ‘obesas' de alma? E que consequências é que isso terá na sua vida?

"O problema é que a grelha de programação obedece mais a interesses económicos do que educativos", nota Teresa Ferreira. E esta ‘dieta' perversa é a alimentação espiritual exclusiva de muitas crianças. "O que me parece mais preocupante é que vivem pregadas a um único género de programa: a telenovela", explica Sara Pereira. "Se essas novelas fossem discutidas, até podiam ser elementos interessantes. O problema é que elas são consumidas, tanto por pais como por filhos, absolutamente sem reflexão. E, como eles só vêem aquilo, em termos culturais, sociais e pessoais, isto limita muito uma geração! Se elas tivessem oportunidade ou motivação para verem outras coisas, a televisão podia até servir para abrir horizontes, mas isso não está a acontecer."

Além do mais, as crianças estão a ser ‘cobaias' de um novo género, a novela infantil. "Até aqui tínhamos a telenovela para adultos que as crianças também viam. Hoje em dia, há telenovelas feita especialmente para os mais novos", explica Sara. "Os ‘Morangos' são mais reais, a ‘Floribella' mais fantasiosa, mas se os jovens tivessem oportunidade de conhecer outras realidades, o facto de verem telenovelas para mim não seria nada preocupante. O que me preocupa é que o mundo deles actualmente só passa por ali."

Quando a imaginação ‘morre'
"A televisão é indissociável da actual organização da sociedade: consumo rápido e excessivo, ritmo de vida frenético, culto da aparência, pouca preocupação com as relações, mundo imaginativo mais pobre, sonhos de mão dada com o verbo Ter. A família é menos participativa nas actividades das crianças e estas crescem sozinhas - e mal acompanhas pela televisão", resume Teresa Ferreira. "Muitas crianças têm a televisão como única companhia", reforça Sara. "Isto é uma questão social muito grave que todos acham normal mas que devia estar a preocupar-nos: estamos a ficar terrivelmente ‘apertados' em termos de horizontes."

A questão é precisamente essa: que horizontes dá um ecrã às crianças? Ao que parece, muito limitados... "Preocupa-me a existência de crianças isoladas, deprimidas, pouco imaginativas, que não sabem conversar, muito longe do desenvolvimento de todas as suas potencialidades, pouco expressivas, pouco empáticas com os outros: corremos o risco de estar a criar crianças anestesiadas," nota Teresa Ferreira.

A perda da noção de esforço
Curiosamente, é nos adolescentes que esta influência mais se nota. E nas duas especialistas, a conclusão é a mesma: as noções de tempo, espera e esforço desapareceram dos ecrãs e correm o risco de desaparecer da vida deles. "A noção de tempo na televisão e na vida real é totalmente diferente: quer o tempo da tarefa em si, quer o tempo em termos mais latos, o tempo de espera", explica Teresa. "Quer nos ‘Morangos' quer na ‘Floribella', está sempre a acontecer muita coisa e o próprio ritmo das tarefas mais simples, por exemplo, pôr a mesa, é acelerado. Isto pode levar à ideia de que não temos que nos sujeitar a esforços, nem a tempos de espera para atingir os nossos objectivos. E a dificuldade em gerir os ritmos de tempo e esforço pode ter consequências nos estudos e até na vida adulta."

"Mesmo nos ‘Morangos', vemos um colégio, mas quando é que os vemos a estudar? Nunca!", desabafa Sara. "Ficamos com a sensação de que a verdadeira vida é cá fora, que eles estão apenas ali a passar o tempo e que aquilo não tem relação nenhuma com o futuro deles! E, depois, na impossibilidade de confrontar isso com outras realidades, os mais novos pensam que é assim que se leva a vida, na boa..."

O papel da família está ameaçado
Problemas e conflitos da vida, quando os há, são apresentados nas telenovelas sem qualquer elaboração: "Isto pode resultar numa confusão de valores entre aquilo que a televisão transmite e o que lhes é passado pela família", nota Sara. "Por exemplo, em muitos desses produtos um adulto nunca é um facilitador, um orientador, é sempre um entrave à vida deles. E nós sabemos que não é assim, que na vida ‘real' os jovens gostam e precisam de orientação. Claro que isto ajuda à progressão da história e à criação de conflito, sem o qual não há novela, mas as coisas não podem ser tratadas dessa maneira!" Isto pode levar a uma falta de rumo na vida deles. "Eles hoje entram muito mais cedo no mundo dos adultos, mas, de facto crescem cada vez mais tarde, e a adolescência prolonga-se para dentro de um mundo de estufa, que os impede de se afirmarem mais cedo. Por exemplo, só às portas da faculdade é que começam a perceber que é preciso estudar."

Profissão: famoso
Ah, chegar à faculdade, escolher uma carreira: mas como é que se escolhe uma carreira pela lei do menor esforço? "Quando se trata de escolher uma profissão, os adolescentes de hoje são ao mesmo tempo muito ambiciosos e cada vez mais irrealistas. Enquanto para alguns a ambição é um trampolim, para muitos resulta em desapontamento e desânimo e não optimismo e sucesso." Estas são palavras do sociólogo americano John Reynolds, que comparou os planos de carreira e depois as verdadeiras carreiras de adolescentes em 1976 e 2000, e percebeu que a diferença entre os planos e a sua concretização cresceu de forma abismal entre as duas datas.

"A noção de realização, para muitíssimos adolescentes, não passa por uma ‘carreira', mas por qualquer coisa que dê fama", nota Teresa Ferreira. "Ouve-se muito nos reality-shows, quando lhes perguntam porque é que estão ali, eles responderem: ‘para ser famoso'. Querem ser ‘famosos' como se famoso fosse uma profissão em si. Não vêem a fama como uma consequência de qualquer coisa, vêem-na como um objectivo a atingir - e de forma fácil."

A forma como o trabalho é apresentado nas telenovelas para adolescentes não ajuda: "Repare nas profissões que eles têm, quando as têm: trabalhar num bar de praia... É qualquer coisa apresentada como levezinha e divertida. A adolescência é-lhes prolongada com todas as consequências que isso possa ter.""A imagem que é transmitida é sempre de facilidade", confirma Sara. "Por exemplo, seria interessante os pais e professores lerem com as crianças algumas reportagens sobre a vida dos actores que mostram como de facto aquilo pode ser um trabalho duro, que exige esforço. Porque muitas vezes os jovens não distinguem entre o papel representado e a pessoa que o representa. Eles querem ser ‘conhecidos', mas nem se interrogam sobre o que significa a fama, e como é que isso se repercute na vida de uma pessoa. Não sabem quantos ‘famosos' tiveram de deixar os estudos para trás, nem quantos deles se vieram a arrepender da opção que tomaram."

Ou seja: "Aquele mundo que parece tão bom quando comparado com a ‘seca' da escola pode parecer-lhes bem melhor que o deles, mas conversem com eles sobre essas questões!" Faz muita falta essa reflexão com as crianças, talvez porque os próprios pais não a façam, e sejam muitas vezes tão deslumbrados e inocentes como elas...

Acompanhe o seu filho
Reflexão, consciência: estas são palavras-chave para impedir que os mais novos estejam a ser educadas por estranhos. "As séries e telenovelas não terão grande ascendência se a família for organizada e com influência nas suas crianças", explica Teresa Ferreira.

Ou seja, lembre-se sempre que você é mais forte que qualquer telenovela. "Uma relação parental presente e de qualidade vai mediar, direccionar e atenuar os conteúdos menos adequados," explica Teresa. "Mesmo um ‘mau' programa, quando é objecto de conversa entre pais e filhos, pode ser educativo. Pelo contrário, se for visto por uma criança desacompanhada, que não tenha idade para aceder aos seus conteúdos, pode ser perturbador. Também a cultura da imagem e do prazer sem esforço são mensagens que entram mais facilmente se há pouco tempo de convívio com os pais, se, no fundo, estes não conseguem ser modelos que se sobrepõem aos do ecrã."

Teresa aconselha os pais a retirarem a televisão do quarto das crianças e a desligá-la durante as refeições. "Chamem a atenção para determinados programas que achem interessantes e vejam-nos com eles. Tenham DVDs (escolhidos em conjunto) à mão para quando as crianças ficam a ver televisão sozinhas. Atenção que proibir não é uma boa ideia, porque o fruto proibido é sempre o mais apetecido, mas mostrem outras opções, conversem, direccionem."

Por que não levá-las de vez em quando ao seu trabalho? Tire-as de casa, desenvolva as suas capacidades, converse com eles para que aprendam a conhecer os seus pontos fortes e fracos, leve-as a viajar, leve-as a casa dos seus amigos, explique-lhes o que eles fazem. Ou seja: mostre-lhes que há muito mais na vida do que aquilo que vêem nas telenovelas.